Ao anunciar que deixaria de usar as redes sociais para cuidar da saúde mental, o ator britânico Tom Holland, atual protagonista da franquia de filmes “Homem-Aranha”, acabou por reacender as discussões sobre os efeitos nocivos das plataformas.
Em um vídeo direcionado aos fãs, ele disse: “Acho o Instagram e o Twitter superestimulantes, opressores. Me pego preso em uma espiral quando leio coisas sobre mim on-line e, no final das contas, é muito prejudicial para o meu estado de saúde mental. Decidi, então, dar um passo atrás e deletar o aplicativo.”
Holland não está sozinho nessa: ele engrossa um grupo de outras celebridades tão ou mais famosas que abandonaram as redes recentemente como Selena Gomez, Demi Lovato, Ed Sheeran e Camila Cabello, com a mesma preocupação.
No Brasil, a influenciadora Jout Jout também seguiu o mesmo caminho – após um tempo afastada das plataformas, ela anunciou, em julho, o fim do canal que tinha no YouTube.
Ainda que por serem famosos estejam muito mais expostos, o comportamento dessas celebridades reflete o sentimento de uma geração inteira: em uma matéria sobre o caso do ator britânico, a BBC informa que um relatório do think tank Education Policy Institute e da instituição beneficente The Prince’s Trust, ambos sediados no Reino Unido, mostrou que a saúde mental, o bem-estar e a autoestima dos adolescentes estavam sendo prejudicados pelo uso intensivo das redes sociais.
BRASILEIROS TAMBÉM SOFREM
Por aqui, a situação se repete. Segundo matéria do jornal O Globo, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) identificou que, apesar da diminuição da intensidade da pandemia de Covid-19 no país (momento em que o tempo on-line cresceu exponencialmente), a redução de casos de depressão e ansiedade não se refletiu entre crianças e adolescentes – e esse grupo é o que mais passa tempo conectado às redes sociais e aos jogos on-line.
Esse estudo foi feito com seis mil jovens e traz um alerta para uma crise de saúde mental entre adolescentes e adultos que, pelo visto, está longe de arrefecer.
Já uma pesquisa da Opinion Box identificou que 53% dos brasileiros concordam que as redes sociais têm bastante poder de afetar a sua saúde mental. E segundo o Instituto de Pesquisa Ipsos, o Brasil é o segundo país no mundo com mais casos de cyberbullying. O estudo ouviu 20,3 mil pessoas e, entre elas, 29% dos pais ou responsáveis consultados relataram que os filhos já foram vítimas de violência on-line.
A CULPA É DO ALGORITMO
Embora Tom Holland não tenha mencionado situações ou razões específicas que esteja enfrentando, não é difícil entender como alguns dos componentes das redes sociais afetam a saúde mental dos usuários, sejam eles famosos ou anônimos.
O algoritmo dessas plataformas – sistema que entende as preferências de cada usuário e entrega conteúdo de acordo com elas – é responsável por ativar um mecanismo de recompensa no cérebro humano que faz qualquer pessoa se sentir obrigada a estar on-line a todo momento.
Assim, quanto mais tempo passamos nas redes, mais conteúdo (orgânico e publicitário, sobretudo) recebemos ou tendemos a publicar.
Esse mecanismo, de acordo com o psicólogo Luiz Mafle, professor de Psicologia e doutor pela PUC Minas e Universidade de Genebra, na Suíça, em entrevista ao Metrópoles, leva as redes sociais a ativarem quatro gatilhos que afetam, diretamente, a saúde mental dos usuários: a idealização de vida perfeita; a comparação do estilo de vida; cyberbullying; a comparação em relação a corpos e a felicidade forçada.
A PSICOLOGIA EXPLICA
Não à toa, depressão e ansiedade são os problemas mais comuns entre quem se queixa do uso excessivo das redes sociais. Casos de dissociação e perda de noção do tempo também são frequentes.
Na Psicologia, inclusive, existe a Teoria do Comportamento Displicente, que faz a conexão entre saúde mental e redes sociais. Ela explica, por exemplo, que ao ficarem mais tempo on-line e deixarem as interações para o mundo virtual, as pessoas tendem a se isolar do mundo real – e esse comportamento está relacionado aos distúrbios emocionais.
“As pessoas ficam mais tempo paradas e perdem esse tempo de interação cara a cara quando estão nas redes”, explica Michelli Simpson, Mestre em Psicologia, Co-fundadora da Calligo Tecnologia e Serviços SA, em entrevista à IstoÉ Dinheiro.
FICAR OFF É SOLUÇÃO?
Abandonar completamente as redes sociais soa uma medida muito drástica – sobretudo porque celebridades como as mencionadas neste texto possuem uma equipe de suporte da qual anônimos não dispõem. Mas isso também depende, obviamente, do quanto a pessoa esteja com a saúde mental debilitada por essa razão.
No entanto, uma prática que tem sido comum com quem quer reduzir os impactos dessas plataformas sobre si é o chamado “Detox Digital”.
A medida consiste em reduzir o tempo de uso das redes sociais, seja desativando a conta por um período determinado de tempo, desinstalando os aplicativos do telefone ou movendo-os da tela principal para outras pastas do telefone; desativar as notificações ou até mesmo limitar o tempo de uso do smartphone – dispositivos com Android e iOS, inclusive, possuem recursos nativos que determinam a quantidade de tempo para se gastar por aplicativo, bloqueando-o após o limite ser atingido.
Outro caminho é introduzir novos hábitos – atividades offline, digamos assim – para ocupar o tempo que seria gasto na internet: ler livros ou revistas e praticar alguma atividade física (caminhada, corrida, pedalar etc.) ou artística, por exemplo.
Essas são ações simples, mas que possuem uma tendência forte para ajudar. Uma pesquisa da Universidade de Bath publicada também neste ano constatou que dar um tempo de uma semana nas redes sociais já melhora o bem-estar e reduz a ansiedade e a depressão.
NÃO SOFRA SÓ: PEÇA AJUDA!
Mas, atenção: se você não conseguir impor limites por conta própria e sente que as redes sociais te prejudicam, é imprescindível procurar ajuda profissional.
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Diógenes Santos é Coordenador Executivo de Contas do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada