Festivais, shows, viagens, experiências gastronômicas, entre outros. Diversos são os momentos que a vida nos proporciona, seja para vivermos sozinhos ou compartilharmos com pessoas que amamos. Pensando nisso e também na dinâmica da Internet, fica o questionamento: será que as redes sociais estão fazendo com que a gente deixe de curtir esses momentos com a intensidade que deveríamos?
Há muitos relatos nas redes sociais de pessoas que vão a shows e não conseguem ver o artista. Muitas vezes não conseguem ver nem mesmo o palco! Elas alegam que a plateia fica o tempo todo com os celulares para cima para filmar grande parte do espetáculo. Vídeos que, posteriormente, podem ser armazenados para nunca (ou raramente) serem vistos.
Há também um clássico que até virou puada entre produtores de conteúdo do Instagram que postam reels brincam com a situação de quando você vai a restaurantes, lanchonetes e afins, e fica por um grande tempo aguardando que a sua companhia faça vídeo ou foto de um prato, sem que você sequer possa tocar na comida porque vai deixá-la feia para uma publicação nos stories.
É inegável que os celulares e as redes sociais se tornaram parte das nossas vidas. Nesta última é quase uma segunda vida em que precisamos mostrar para os nossos seguidores o que estamos fazendo. Seja para registrar um copo de cerveja no boteco no fim de semana ou uma viagem para o exterior. Mas qual a finalidade?
Queremos realmente deixar essas memórias registradas? Queremos que as pessoas saibam o que estamos fazendo? Que elas validem as nossas experiências? Queremos mostrar para alguém em específico o que estamos conquistando e que estamos nos saindo bem?
Bom, o fato é que muitas das vezes deixamos de estar 100% focados em uma experiência e nos preocupamos em compartilhar tudo em tempo real com os nossos seguidores. O que não está errado, não estou dizendo isso. De forma alguma! Mas é algo a se pensar, visto que a abertura de um show, por exemplo, poderia ter uma memória muito maior e impactante caso a gente mergulhasse de cabeça nessa experiência.
Recentemente, o cantor Manuel Turiz ficou incomodado com a quantidade de pessoas filmando o seu show ao invés de curtir o momento e ameaçou pará-lo: “Curtam a festa. Guardem seus celulares, senão não canto nada e vou embora daqui”. Outro exemplo: a banda Coldplay, em determinado momento do show para a músicaA Sky Full Of Stars e pede para que todos curtam o momento e que pelo menos naquela música fiquem sem filmar e com os celulares guardados.
O The Weeknd, cantor canadense, realizou três apresentações no Brasil e diversas foram as publicações nas redes sociais reclamando da quantidade de celulares levantados durante o show. Na ocasião, muitos dos pagantes não conseguiram ver direito. Outros alegaram precisar ver o show através de telas, pois era grande a quantidade de pessoas realizando longas filmagens durante todo o evento.
As opiniões dividiram a internet. Alguns acreditam que as pessoas devem, sim, filmar, afinal elas pagaram pelo ingresso e se querem registrar o show do seu artista favorito, elas devem fazer. Outros acreditam que pessoas que ficam o tempo todo filmando estão estragando a experiência das outras que foram apenas curtir o show.
Enfim, as experiências estão aí para ser vividas, cabe a cada um entender qual a melhor forma de aproveitá-la, mas, claro, com a consciência de que muitas das vezes você não está vivendo essa experiência sozinho(a). Por mais que você esteja apenas em sua companhia no momento, existe todo um conjunto de outras pessoas ao seu redor também querendo aproveitar. E cabe o questionamento: estamos realmente registrando as experiências para memórias ou esperando a validação dos outros?
José Henrique é publicitário e Coordenador de Comunicação, Eventos e Comunidade do Conversa